Primeiro dia do Congresso traz múltiplas visões sobre desenvolvimento sustentável
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Fonte: Portal da Prefeitura
Autor: Mônica Monteiro

Quebrar o paradigma atual de desenvolvimento. Esta foi a tônica da palestra do pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Unicamp, Mohamed Habib, que abriu na manhã desta terça-feira, 27 de maio, o Congresso Internacional Desafios e Perspectivas do Desenvolvimento Sustentável - Projeto Sustentar, no auditório do Royal Palm Plaza Hotel.

Ao falar sobre o tema "Desenvolvimento Sustentável: Desafios para uma Sociedade em Transformação", Habib traçou um diagnóstico do padrão atual de desenvolvimento e foi enfático: " Este modelo deixou um saldo de quase exaustão dos recursos naturais", afirmou.

De acordo com o pró-reitor, o homem está consumindo os recursos naturais numa velocidade superior à capacidade de regeneração da natureza e isto estaria gerando passivos visíveis como o aquecimento global, o efeito estufa e outros de forte impacto sobre a qualidade de vida da humanidade.

Habib frisou a questão da desigualdade social e de consumo e citou como exemplo os Estados Unidos que, segundo ele, embora tenha 4,5% da população mundial, é responsável pelo consumo de 33% da produção mundial de petróleo, 62% do gás natural e 42% dos recursos naturais. "Hoje, 80% da população sofre as conseqüências deste modelo de desenvolvimento, com queda da qualidade de vida e com a quebra da harmonia na convivência social", disse Habib.

Carbono

Na seqüência, o chefe geral da Embrapa Monitoramento por Satélite, Evaristo Eduardo de Miranda, discorreu sobre o tema "Cadê o Carbono que Estava Aqui? A Sustentabilidade do Agronegócio no Brasil". Neste contexto, Miranda apresentou um retrato da produção de cana-de-açúcar no país e no mundo e de outras culturas que podem ser convertidas em agroenergia ou agrocombustível.

"Expansão e Produção do Etanol no Brasil" foi o tema da palestra seguinte, proferida pelo coordenador de Relações Internacionais da Unicamp, Luís Augusto Cortez. O evento foi encerrado no período da manhã com a palestra da ministra conselheira do Consulado Geral da República da África do Sul, Annabel Haslop, que falou sobre "O Meio Ambiente na África do Sul".

Na opinião da estudante de arquitetura Clara Vieira Teles, eventos como esses deveriam ser realizados com mais freqüência, para abranger o maior número possível de pessoas. "Sinto que a minha geração está mais preocupada com os problemas ambientais, temos mais sensibilidade para isso, mas, infelizmente, quem manda nas coisas é quem tem dinheiro e se eles não mudarem a mentalidade, não saberemos o que será do futuro da humanidade", disse.

Já a bióloga Fernanda Borges acredita na força da educação para mudar a realidade. "Acho que com cidadãos bem formados e informados poderemos reverter a situação, a partir do consumo consciente, do investimento em pesquisas e, principalmente, na educação de crianças e adolescentes", afirmou.

O exemplo da Sanasa

O período da tarde do primeiro dia do Congresso do Projeto Sustentar começou com o pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e presidente do Comitê Científico do Internacional Geosphere-Biosphere Programme, Carlos Nobre, discorrendo sobre "Mudanças Climáticas e o Brasil: Por Que Devemos nos Preocupar?"

Em seguida foi a vez do segundo Painel, conduzido pelo tema geral "O Desenvolvimento Sustentável e o Uso da Água" e coordenado pela professora da PUC Campinas Laura Machado de Mello Bueno. Na primeira palestra deste Painel, o tema foi a Sanasa, em "Campinas, o Vôo do Saneamento", tema abordado pelo presidente da empresa, Luiz Augusto Castrillon de Aquino.

O palestrante fez um breve histórico do plano que vem sendo seguido pela empresa desde 2000, e que já resultou em 65% de esgoto tratado na cidade. Esse índice, informou Aquino, chegará a 80% até o final do ano, com a entrada em funcionamento das Estações de Tratamento de Esgoto de Barão Geraldo, Sousas e Capivari, que se sucederão às ETEs do Anhumas e Piçarrão, já em funcionamento.

"Campinas passou anos sem fazer nada e, em 2001, começou a fazer obras segundo um planejamento que foi elaborado levando em conta as nossas bacias hidrográficas", explicou o palestrante. Ele enfatizou que obedecer a esse planejamento está tornando possível perseguir a meta de alcançar 2010 com 95% do esgoto produzido por Campinas sendo tratado.

Seguida com atenção pela platéia e muito elogiada, a palestra e a atuação da Sanasa deixam para os participantes, segundo Aquino, duas mensagens. A primeira diz que "é preciso agir" e a segunda, que não se pode confundir o difícil com o impossível porque, "se pensarmos que é impossível, nunca agiremos e nunca teremos sucesso". Ele diz que essa filosofia é uma das grandes responsáveis por colocar a Sanasa como a terceira melhor empresa de saneamento do País.

A máxima preconizada pelo presidente da Sanasa, de que "não se deve pensar pequeno" foi elogiada, entre outros, pela funcionária do Banco do Brasil e pós-graduanda em Desenvolvimento Regional Sustentável, Rosana De Arazão, que assistiu à palestra pela segunda vez – a anterior foi na CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, órgão estadual) – e disse achar "fantástica" a trajetória da Sanasa.

Opinião semelhante foi manifestada por Greza Arbocz, presidente do Comdema (Conselho Municipal do Meio Ambiente) de Holambra, que foi conversar com Aquino após a exposição para ver a possibilidade de adquirir serviços e tecnologia da empresa campineira.

Bacias Hidrográficas

José Luiz Fontes, gerente do Programa de Microbacias Hidrográficas do Estado de São Paulo, foi o próximo palestrante, apresentando os resultados do Programa. Os prejuízos da degradação dos córregos e rios, do desmatamento, que leva à erosão, ao assoreamento e à redução da biodiversidade, além da ampliação – que poderia ser evitada – da área de agricultura, sem impedir o empobrecimento do agricultor e o êxodo rural foram temas da palestra de Fontes.

Em seguida, ele mostrou os resultados que têm sido alcançados desde o início dos trabalhos, em 2000. "Buscamos implementar propostas de agricultura que sejam socialmente justas e ambientalmente equilibradas e hoje o Programa já atinge 960 microbacias, 3,3 milhões de hectares, 70 mil famílias em 514 municípios", informou.

É importante, segundo Fontes, sensibilizar os agricultores para a conservação das áreas mas também fornecer recursos e capacitação, além de saneamento. Um dos êxitos do Programa é ter conseguido recuperar 4,1 mil hectares de matas ciliares, por meio da doação de mudas, "um resultado importante quando se sabe que, atualmente, o Estado de São Paulo conta com apenas 13% da cobertura nativa original, e apenas em áreas com os vales do Ribeira e do Paraíba.

Expansão urbana

A exposição seguinte esteve a cargo de Pedro Sérgio Facini, da PUC Campinas, com o tema "Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Jundiaí: Uma Visão da Sustentabilidade", quando a contaminação por materiais como o mercúrio, e as possíveis soluções, foram discutidas.

O próximo a se apresentar foi o Professor de Gestão Ambiental do Centro Universitário do SENAC, Renato Arnaldo Tagnin, encarregado de falar sobre "Expansão Urbana, Água e Sustentabilidade". Suas reflexões levaram em conta a realidade da macrometrópole formada pela Região Metropolitana de Campinas, da Baixada Santista e da Grande São Paulo.

Um dos principais alertas feitos pelo professor foi contra o que ele chama de espalhamento da ocupação urbana, que torna mais difícil prover o abastecimento de água e, por outro lado, reduz o espaço territorial e a vegetação que as águas deveriam percorrer para promover sua limpeza, sua "faxina natural", para usar o termo empregado pelo palestrante.

"Vemos os efeitos nocivos dessa prática de ocupação urbana espalhada em todos os rios das bacias do Piracicaba, Capivari e Jundiaí, onde os cursos d'água são usados por um município e reutilizados por outro, logo abaixo, sem tempo para a limpeza, que passa a exigir produtos e tecnologias cada vez mais caros e complexos, sem a mesma eficiência.

"A Experiência de Gifu com Relação ao Meio Ambiente" fechou o primeiro dia do Congresso, com a exposição sob responsabilidade do prefeito de Gifu, no Japão, Shigemitsu Hosoé. Amanhã, quarta-feira, dia 28, o Congresso prossegue com o segundo Painel, a partir das 8h30, que terá como tema "O Desenvolvimento Sustentável, a Produção mais Limpa e o Aproveitamento de Resíduos".

Às 14h começa o terceiro Painel, discutindo "O Desenvolvimento Sustentável e a Inovação Social". As atividades continuarão no The Royal Palm Plaza Hotel, com entrada gratuita. A programação completa está no site www.sustentar.org.