Pesquisadores querem preservar acervo ferroviário
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Fonte: Portal da Prefeitura
Autor: Monica Monteiro

O grupo de pesquisadores da Prefeitura de Campinas, Instituto Civitas e Fapesp (Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) responsável pelo estudo do conjunto ferroviário do município está finalizando um documento com dados e reflexões sobre o tema que será entregue em abril aos poderes Executivo e Legislativo e também ao Ministério Público. O objetivo é contribuir para que o acervo formado por ramais férreos desativados, pátios e oficinas tenha uma destinação que, simultaneamente, contribua para o aperfeiçoamento do sistema de transporte da cidade e preserve a memória de um momento significativo da história campineira.

O documento terá pareceres de urbanistas renomados, como Cândido Malta, e registros do conjunto férreo remanescente, com fotos e depoimentos de pessoas ligadas ao acervo. Entre os testemunhos coletados, estão desde falas de trabalhadores que fizeram toda a sua vida profissional nas ferrovias até moradores que ocuparam as casas construídas originalmente para receber esses trabalhadores e que ficaram abandonadas com a desativação das ferrovias.

Rosana Bernardo, arquiteta da Secretaria de Planejamento, Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente da Prefeitura de Campinas e uma das participantes do Instituto Civitas, acredita que a discussão é "extremamente oportuna, já que a cidade está buscando integrar passado e presente, colocando o acervo ferroviário a serviço de uma melhoria de qualidade de vida do município ao mesmo tempo em que tem como meta aproveitar cada vez mais intensamente as qualidades de metrópole moderna, estudando, por exemplo, como potencializar os usos e vantagens Aeroporto Internacional de Viracopos".

Cinco anos de estudos

As conclusões que comporão o documento que está sendo preparado pelos pesquisadores são fruto de cinco anos de pesquisas, estudos e análises que consideraram o conjunto férreo sob diversos pontos de vista. O projeto foi denominado "O papel dos leitos, pátios, e conjuntos edificados ligados às ferrovias na estruturação urbanística e nas políticas públicas para o município e Região Metropolitana de Campinas".

Segundo a arquiteta, foram reunidas conclusões e sugestões em relação às políticas públicas de aproveitamento dos leitos, pátios e conjuntos edificados. Herança da época em que os trens eram os principais meios de transporte, o acervo ferroviário do município soma 120 quilômetros de leito e 650 m² de área útil, dividida entre oficinas, espaços para manobra e pátios.

O resultado do projeto foi apresentado ao público no mês passado, durante o seminário "A Ferrovia e a Cidade", promovido pela Prefeitura, por meio das Secretarias de Planejamento e Cultura, pelo Instituto de Pesquisa Civitas e pela Fapesp – Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. As palestras e debates ficaram a cargo de pesquisadores da PUCC, USP e Unicamp, Prefeitura e Civitas.

As apresentações abordaram os ramais férreos e áreas adjacentes sob os aspectos histórico e cultural, urbanístico e econômico. Os debates procuraram motivar a sociedade a manifestar-se sobre a melhor utilização de um acervo que já foi de extrema importância para o desenvolvimento do município e região e, atualmente "é visto como um conjunto de cicatrizes no tecido urbano mas está à disposição para ser aproveitado por novas formas de transporte, uma vez que corta a cidade tanto no sentido norte-sul como leste-oeste", assinala Rosana Bernardo.

O secretário de Planejamento, Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, Vicente Andreu Guillo, abriu o seminário enfatizando que a apresentação dos dados levantados durante os cinco anos de duração do projeto e a discussão da destinação a ser dada à malha ferroviária adquirem importância significativa no momento atual. "Estamos discutindo o Trem Bandeirantes, as interligações necessárias para potencializar o Aeroporto de Viracopos, novas rotas entre os municípios da região metropolitana e todo tipo de alternativa de acesso que traga agilidade e alavanque o desenvolvimento e, nesse contexto, os espaços preservados pelos leitos e pátios das antigas ferrovias são uma reserva valiosa, à qual devemos dar o melhor uso", reflete o secretário.

Mapa histórico

Para enriquecer o resgate histórico do município, o Simpósio reuniu, além das discussões, duas exposições, montadas na entrada do Salão Vermelho e no saguão do Paço. As peças fazem parte de um acervo que estava disperso entre a PUCC, a Prefeitura e institutos de pesquisa e que foram reunidos pelos estudiosos do Instituto Civitas.

O Salão Vermelho foi ocupado por mapas antigos da cidade, mostrando o crescimento de Campinas a partir do século XIX. Já no saguão do Paço Municipal foi colocado um grande mapa mostrando como era o centro da cidade em 1800. Medindo 36 m2 e confeccionado em material plástico, o mapa foi estendido como um tapete para que os visitantes, usando pantufas, "percorressem" ruas e praças.

Durante o "passeio", foi possível localizar e reconhecer pontos de referência como a Catedral Metropolitana e a Estação Ferroviária, além dos leitos férreos que, na época, estavam ativos. "Foi uma forma de reviver a história ferroviária em Campinas", explicou Rosana Bernardo.