Rio Capivari agoniza em Campinas
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Manancial que fornece 7% da água consumida no município é maltratado pelo despejo indiscriminado de lixo e esgoto

Fonte: Correio Popular- 05/08/2006
Autor: Gilson Rei - DA AGÊNCIA ANHANGÜERA

O Rio Capivari agoniza nos 35 quilômetros de extensão que cortam Campinas e pede socorro urgente para continuar sobrevivendo. Essa foi a fotografia apresentada ontem pelo Departamento de Meio Ambiente (DMA) da Prefeitura de Campinas, obtida na expedição de técnicos no mês de março, feita em um bote inflável para mapear a situação ambiental do rio e de suas margens.

Mayla Yara Porto, diretora do DMA, disse que a degradação é elevada no rio e que há necessidade de ações de conscientização e recuperação, unindo órgãos públicos, iniciativa privada, entidades e organizações não-governamentais (ONGs). “O rio é um esgoto a céu aberto”, comparou.

O mapeamento contou com auxílio de um aparelho GPS — Global Positioning System (Sistema de Posicionamento Global) — que permitiu um diagnóstico exato da região, identificando os locais com irregularidades. Ao todo, 40 pontos foram demarcados com o GPS no percurso. “A degradação foi identificada em 33 pontos demarcados”, disse Mayla.

O relatório final, concluído nessa semana, revelou que o rio apresenta em toda a sua extensão trechos assoreados, erosão, muito lixo doméstico e industrial jogado no leito e nas margens, lançamento de esgoto e vários pontos clandestinos de retirada de areia e de água.

Mayla afirmou que entre as medidas de recuperação está a instalação de uma estação de tratamento de esgoto na região, que já foi proposta e aceita pela Sociedade de Abastecimento e Saneamento S.A. (Sanasa). “Em breve, a Sanasa deverá colocar em prática o início das obras”, revelou. Outra medida em andamento será a criação do Parque Linear do Rio Capivari.

A diretora disse que o nível de poluição do rio foi avaliado também pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e o resultado foi o pior possível: classificado como classe 4. Os padrões estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), recomendam a água classe 4 apenas para a navegação. “Essa classificação de água é inaceitável para abastecimento doméstico, para a preservação do leito e para a vida aquática”, afirmou.

Com a poluição, a primeira conseqüência é a contaminação de hortas e plantações que usam a água do rio, além de causar redução do volume de água no leito. O relatório revelou que a água do Rio Capivari tem alto potencial de eutrofização. Isso significa que a poluição existente provoca excesso de algas, que retiram o oxigênio da água, causando morte de peixes e repercutindo na péssima qualidade para o consumo.

O esgoto lançado pela população de forma irregular e o acúmulo de lixo doméstico e industrial são outras agravantes. “O volume de esgoto lançado in natura é superior ao volume de água no leito”, disse a diretora. Quanto ao lixo, Mayla disse que é comum ver resíduos despejados no rio de forma direta pela população e até através das bocas-de-lobo. “A sujeira lançada nas ruas, avenidas e terrenos, desemboca no rio ou nos afluentes pelas bocas-de-lobo em dias de chuva e através de enchentes”, afirmou.

O relatório mostra também que a retirada de pedra e areia, através de dragas de mineração em pontos diversos, está provocando erosão e assoreamento. “Além disso, as máquinas poluem o rio com óleos, graxas e outros lubrificantes”, comparou. “Ilhas e bancos de areia e entulhos formaram-se no meio do rio”, afirmou a diretora.

Multas

Mayla lembrou que, para buscar a conscientização da comunidade, o mapeamento foi utilizado também para elaboração de propostas de ações no Plano Diretor de Campinas e poderá viabilizar até a cobrança de multas dos responsáveis para tentar recuperar o leito. “Ações de conscientização do departamento estão sendo trabalhadas diretamente nos pontos mais críticos identificados, mas há necessidade da união de outros órgãos e entidades”, afirmou a diretora. Por isso, 20 órgãos de proteção ambiental receberam o relatório e as propostas, incluindo o consórcio e o comitê da Bacia PCJ, dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí e a Agência Nacional das Águas (ANA).

SAIBA MAIS

Ações necessárias para a recuperação do rio

Tratamento de esgoto
Incremento da fiscalização
Educação ambiental
Gestão municipal integrada
Monitoramento da qualidade
Recomposiçao da mata ciliar
Desassoreamento
Limpeza de detritos
Controle de perdas no abastecimento de água
Reassentamento de famílias de áreas de risco
Controle da erosão
Concessão de outorgas e licenças

Apesar da poluição, água continua sendo captada

Técnicos da Sanasa garantem que a qualidade da água captadada no Rio Capivari, mesmo sendo baixa, está adequada para o sistema de tratamento que é adotado pela empresa, sem oferecer risco à saúde. Segundo eles, a maioria dos parâmetros da água captada no Rio Capivari se enquadram na classe 2 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que torna-se de boa qualidade após o tratamento. Os técnicos disseram que o sistema utilizado para tratar é o mesmo utilizado nas outras ETAs e não exige investimentos adicionais. A água de baixíssima qualidade do Capivari, que se enquadra nas classes 3 e 4, não é disponibilizada para o consumo. A dificuldade deverá ser maior no tratamento e exigir maiores gastos, caso e a poluição aumente, pois a Sanasa dificilmente deverá encontrar água tratável, classe 2. Por isso, já está em fase final de execução a instalação de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) na região do Rio Capivari para melhorar a qualidade da água.