Campinas pode ser modelo ambiental
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Fonte: Correio Popular

MAYLA YARA PORTO

O Dia Mundial do Meio Ambiente tem sido celebrado desde 1972, quando, para marcar a abertura da Conferência sobre o Meio Ambiente realizada em Estoc olmo, na Suécia, a Assembléia Geral das Nações Unidas estabeleceu o dia 5 de junho como o Dia Mundial do Meio Ambiente. De lá pra cá, os temas mudam anualmente, incluindo, por exemplo, oceanos, água e cidades verdes. Em 2006, as principais celebrações no Dia Mundial do Meio Ambiente estão centradas na cidade algeriana de Algiers sob o tema “Não abandone os desertos”. O tema remete ao fato de 2006 ser o Ano Internacional dos Desertos e da Desertificação.

O conceito de desertificação, como foi estabelecido durante a Conferência do Rio (ECO 92), pode ser entendido como a degradação da terra resultante de fatores diversos, tais como as variações climáticas e as atividades humanas. Mas ela se dá também pela degradação da infra-estrutura econômica e da qualidade de vida dos assentamentos humanos.

Isto porque o crescimento da população e da densidade populacional tem contribuído para a exploração dos recursos naturais para além de sua capacidade de suporte. O aumento da população, assim como das demandas por alimentos e energia, aliadas às formas inadequadas de manejo da terra, vêm provocando degradação dos solos, da vegetação e da biodiversidade, provocando imensos impactos ambientais.

A urbanização passou a ser um problema planetário, porque o crescimento do mundo urbano adquiriu um caráter descontrolado, quase cancerígeno. A crise que vivenciamos nas grandes cidades é um indicador de que uma nova ordem se faz necessária, com reestruturação de modelos, hábitos e posturas.

Essa situação não é alheia à nossa realidade. Campinas já é a oitava maior economia do estado e do Brasil. Também já aparece como um poderoso ator global com recursos culturais, naturais e logísticos únicos. Assim, é preciso investir em um novo modelo de desenvolvimento, por meio do investimento nos ativos intelectuais e humanos da cidade, na sua robusta indústria local, na sua inequívoca vocação de serviços e na capitalização de novos setores de sustentabilidade de sua economia: energia limpa renovável, eficiência no sistema de transportes e infraestrutura, inovações nos eixos que conformam o desenho urbano e preservação do espaço rural.

As experiências exitosas de desenvolvimento local sustentável exigem um novo modelo de gestão integrada de políticas públicas, atuando de forma articulada entre as diversas instâncias e áreas de governo. Outro fator importante é o desenvolvimento tecnológico apropriado ao estágio atual de progresso em que a comunidade se encontra. O processo de geração e adaptação de técnicas voltadas para a produção e agregação de valor deverá envolver, de forma sinérgica, os agentes comunitários, centros tecnológicos e as universidades, de forma a permitir a sustentabilidade de um programa de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável.

Além disso, o Desenvolvimento nesses moldes exige, e exigirá cada vez mais, uma nova distribuição espacial do desenvolvimento, questionando a atual divisão territorial político-administrativa da cidade, que deixa de captar e dinamizar vocações e dificulta a integração regional. As demandas da sustentabilidade colocam a necessidade de pensar e praticar o desenvolvimento em micro-regiões eco-sociais mais homogêneas, definidas a partir da combinação de critérios humano-sociais com critérios econômicos e ambientais, levando em conta, por exemplo, as bacias e microbacias hidrográficas.

Nesse contexto, o Dia Mundial do Meio Ambiente é relevante por ser um momento de debate e reflexão que gera informações qualitativas para a gestão ambiental do município. Sendo este um diferencial competitivo que Campinas pode ter: o de ser reconhecida como uma cidade defensora do meio ambiente, assumindo a responsabilidade ecológica pelo seu futuro. Isto não é difícil porque o município possui uma natureza rica, um espaço rural com muitas potencialidades e um espaço urbano extremamente estratégico. Portanto, não dá para continuar a desperdiçar esse poderio geopolítico, uma vez que Campinas tem todas as condições de ser uma cidade modelo em termos de desenvolvimento sustentável e se tornar referência mundial, não só pelo seu potencial econômico, mas também pela sua qualidade de vida.


Mayla Yara Porto é diretora do Depto. de Meio Ambiente da Secretaria de Planejamento, Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Campinas e presidente do Comdema.