Residência Médica do Mário Gatti ganha prestígio em todo o País

10/12/2003

Relação candidato vaga, na área de cirurgia geral, supera o índice verificado no HC da Unicamp

Marco Aurélio Capitão

Às vésperas de completar dez anos de existência, o Programa de Residência Médica (RM) do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti (HMMG) firma-se como um dos mais prestigiados e concorridos cursos de especialização do País. Dia 3 deste mês, quando encerrou-se o prazo de inscrição para o processo seletivo de RM para o ano que vem, 531 candidatos de todos os estados brasileiros haviam se matriculado para concorrer a uma das 29 vagas oferecidas.

A relação candidato vaga, por exemplo, na área de cirurgia geral, com 191 candidatos para seis vagas, chega a superar o índice verificado, para a mesma especialidade, no Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com 210 candidatos para quinze vagas.

Todos os cursos de Residência Médica do HMMG são credenciados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e reconhecidos pelas respectivas associações. O tempo de duração dos cursos varia de dois anos, como é o caso da cirurgia geral e clínica médica, até cinco anos, neurologia e cirurgia plástica, por exemplo.

No Programa de RM do Mário Gatti são oferecidos cursos nas especialidades de cirurgia vascular, urologia, cirurgia plástica, neurologia e clínica cirúrgica. Quando foi criado, em 1994, o Programa atendia, apenas, as áreas de clínica médica e cirurgia geral.

“Desde então, a Residência Médica do Mário Gatti evoluiu muito. Nos últimos dois anos a Secretaria de Saúde investiu bastante na aquisição de equipamentos e, principalmente, na qualificação do nosso corpo clínico e isso explica a grande concorrência. Hoje, é um privilégio poder fazer residência no Mário Gatti”, explica o médico Mário Sérgio Rolim Zaidan, coordenador do Programa de RM na área de cirurgia geral e presidente da Comissão de Provas do processo seletivo 2004.

Zaidan lembra que a política de valorizar e qualificar os médicos orientadores reflete na qualidade do conteúdo que é repassado aos residentes. Ele ressalta que “o preceptor, hoje, tem mais bagagem e tempo para dedicar à orientação dos alunos e, além disso, é remunerado para essa função”.

Hospital prioriza Programa

A melhora na qualidade do Programa de RM do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti ocorre, justamente, num momento em que há uma diminuição na oferta das vagas dos cursos de residência, em todo o estado e São Paulo, que eram patrocinadas pela Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap).

Essa avaliação é feita pelo médico Antônio José de Pinho Jr., presidente da Comissão de Residência Médica (Coreme) do HMMG. Pinho Jr. faz questão de ressaltar que o Programa de Residência do Mário Gatti é pago, integralmente, com recursos do Município.

No seu entender, “isso é possível a partir do momento em que o Hospital prioriza o Programa de Residência e tem a certeza de que, num segundo momento, esse esforço vai resultar num serviço público de qualidade”.

Exemplo desse esforço, segundo ele, está no repasse para o Programa de RM de todo o recurso arrecadado com as taxas de matrículas dos candidatos. Ele dá o exemplo do curso de Avaliação da Residência Médica, dirigido aos preceptorres, que é inteiramente pago com essa verba. As aulas, no próprio hospital, são ministradas pela doutora Valéria Vernaschi, médica da Faculdade de Medicina de Marília (Famema).

Pinho Jr. afirma, ainda, que o aperfeiçoamento do programa de informatização do HMMG também contribui para melhorar a qualidade das especializações. “Hoje, tanto na sala da Coreme como nos diversos andares das enfermarias o residente consegue pesquisar ou fazer a interface que precisa para desenvolver seu trabalho”.

Residência, um estágio imprescindível

Só com o que aprende nas faculdades, o que inclui as melhores instituições do País, o estudante não consegue a qualidade que pode obter num curso de residência médica. A análise é de Arthur Sarti, preceptor da área de clínica médica e diretor setorial das áreas clínicas do Hospital Mário Gatti.

Para ele, já foi o tempo em que a residência médica era uma opção para quem queria somar uma especialização em seu currículo. Sarti revela que 98% dos médicos recém formados no Estado de São Paulo prestaram algum concurso para ingressar em cursos credenciados de residência médica.

“Para se ter uma idéia – argumenta o médico – um requisito básico para o médico ingressar, por meio de concurso, no Mário Gatti, é que ele tenha, pelo menos, dois anos de residência médica”.

Ele acrescenta, ainda, que o empobrecimento do conteúdo das disciplinas na faculdade, aliado ao fato de muitas instituições de ensino estarem desvinculadas do cotidiano hospitalar, acaba por formar um profissional despreparado.

Essa posição é compartilhada por Luiz Alberto Bacheschi, presidente da Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Em entrevista ao Jornal do Conselho Regional de Medicina, edição de novembro, ele coloca que “a residência, hoje, tornou-se necessária como aprimoramento, já que os cursos de graduação não cumprem a função de formar um médico capacitado a atuar como tal, logo após a formatura”.

Esse despreparo, na avaliação de Arthur Sarti, gera um descompasso com a demanda na prestação serviço. Esse descompasso, no seu modo de ver, faz com que falte resolutividade no atendimento primário. Em outras palavras ele explica que, por exemplo, num centro de saúde, o médico deveria ter condições de atender com resolutividade entre 80% e 90% da demanda. “Ocorre que acontece exatamente o contrário e, infelizmente, essa inversão derruba a qualidade e sobregarrega os hospitais e outros setores secundários que precisam estar preocupados com  outras ações”.

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