"Trainspotting", que traz o cotidiano de jovens britânicos usuários de drogas injetáveis nos anos 90, está no Cinema Mostra Aids desta 2ª

06/10/2006

Ciclo de cinema tem filmes com entrada gratuita e é realizado no Museu da Imagem e do Som (MIS),
rua Regente Feijó, número 859, no Centro

Você já se imaginou mergulhando dentro de um vaso sanitário, usado, num daqueles botecos que só de passar por perto já dá um certo nojo? Você já pensou em deixar uma criança passando fome simplesmente por ter esquecido da existência dela, que no caso, seria seu filho? Não? Então precisa ver o filme "Trainspotting: Sem Limites".  

A produção é exibida de graça e na tela grande, na noite desta segunda-feira, às 19h, no Museu da Imagem e do Som (MIS) Campinas, localizado no Palácio dos Azulejos, à Rua Regente Feijó, número 859. Trata-se de um dos mais importantes expoentes de uma parcela considerável da juventude nos anos 90. No caso, é mostrado o cotidiano de um grupo de jovens usuários de drogas injetáveis.  

Inspirado no best-seller de Irvine Welsh, o diretor Danny Boyle realizou mais um polêmico retrato da juventude no final do século 20.  Produzido por ingleses e lançado em 1996, o filme tem com 94 minutos. 

Sem enaltecer nem condenar o comportamento dos protagonistas, o filme focaliza um grupo de escoceses usuários de heroína. Essa comédia polêmica caiu nas graças da imprensa inglesa, recebeu aplausos no Festival de Cannes e obteve sucesso de público. Por outro lado, em nome de uma suposta a moral e de relativos bons costumes, houve tentativas de proibi-la em diversos países.  

O narrador Mark (Ewan McGregor), e seus colegas Spud (Ewen Bremner), Sick Boy (Johnny Lee Miller), Begbie (Robert Carlyle) e Tommy (McKidd) levam a vida "vendo o trem passar", como sugere a gíria britânica do título. Ou seja, não estão nem aí para trabalho, escola ou família. Na Edimburgo dos dias de hoje, eles vivem à beira de perigos como a overdose ou a aids. Mas no desfecho, nem todos se dão mal.

O filme ganha ainda mais ritmo com a trilha sonora pop e canções interpretadas por, entre outros, New Order, Brian Eno, Lou Reed, Iggy Pop, Primal Scream, Blur e Elastika. Lou Reed, neste caso, está presente com "Perfect Day".

Evento inédito em Campinas

Cinema Mostra Aids é uma realização da organização não-governamental Grupo Pela Vidda/SP em parceria com o Programa Municipal de DST/Aids da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Campinas, e o Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo que acontece desde segunda-feira, dia 2 de outubro.

As parcerias construídas entre instituições públicas e sociedade civil organizada permitem a exibição de filmes em um local alternativo – a sala de projeção do MIS, no Palácio dos Azulejos, um espaço público e que integra o patrimônio histórico-cultural de Campinas –, em condições de acessibilidade à população, já que está localizado no Centro de Campinas e todas as sessões têm entrada gratuita.

Cultura para falar sobre Aids

A idéia da Mostra é usar um evento de apelo cultural para falar sobre Aids. Assim, um vasto painel sobre questões da epidemia é traçado a partir da seleção de filmes que trazem a infecção pelo HIV como tema central ou pano de fundo. Em alguns dos títulos, a Aids é o tema central do filme, em outros aparece na trama ou na vida de personagens.

Ao longo de mais de duas décadas da epidemia, são muitos os autores e diretores de cinema que transformaram a AIDS em fonte de inspiração. Além de retratarem a realidade da epidemia pelo HIV/Aids no mundo, provocaram diversas reações: polêmica, comoção, medo, conscientização, ironia, indignação, nas platéias de diferentes partes do mundo.

Os títulos desta primeira edição do Cinema Mostra Aids Campinas, trazem perplexidades e respostas do cinema frente à Aids, e também alertam para a necessidade da prevenção e da eliminação do preconceito, além de testemunharem parte da realidade das pessoas que vivem com HIV/Aids.

Apoiadores

Coordenada por Adriano Brandão, membro do Grupo Pela Vidda/SP, a Mostra conta com o apoio de jornalistas especializados em cinema, distribuidoras de filmes, tradutores e colaboradores voluntários do Grupo Pela Vidda/SP, parceiros do Programa Municipal de DST/Aids de Campinas e trabalhadores do Museu da Imagem e do Som (MIS) de Campinas, que cedeu gentilmente sua sala de projeções e pessoal de apoio para a realização da Mostra.

Mostra reúne várias gerações

Nem o calor da tarde de quinta-feira desanimou os 25 adolescentes que se juntaram aos outros freqüentadores do MIS para ver o filme "Filadélfia". "Achei legal mostrar isso assim, nunca tinha assistido este filme", disse o estudante Wagner de Oliveira, que participa do projeto Jovem Convivência, desenvolvido pela ONG Centro de Educação e Assessoria Popular (Cedap), entidade parceria do Programa Municipal de DST/Aids de Campinas.

"Agora a gente vai para o Cedap fazer uma discussão e quero vir para ver outros filmes porque na Mostra é interessante que são mostrados diferentes pontos de vista sobre a Aids", afirma a psicóloga Carolina Zaparoli, uma das coordenadoras do Cedap.

A profissional de saúde Maria Luiza, que trabalha na Direção Regional de Saúde (DIR) 12, que viu o filme "Borboletas da Vida", exibido na abertura da Mostra, disse sentir falta de mais eventos culturais com foco sobre o preconceito e a necessidade de prevenção ao HIV e à Aids.

"Considero que essas informações sobre o comportamento das pessoas, sobre as condições sociais a que são submetidas e que podem torná-las mais ou menos frágeis, não só ao HIV e à Aids, mas a diversas outras coisas, precisam ser mais inseridas na cultura da população", disse. O filme "Borboletas da Vida" mostra parte da realidade de jovens homossexuais e travestis na periferia do Rio de Janeiro.

A aposentada Aparecida Rodrigues Apolinário, depois de ver o mesmo filme, disse que estava emocionada. "É a primeira vez que eu venho ao cinema", afirmou. Ela foi à Mostra com sua professora e colegas de uma turma de Educação para Jovens e Adultos (EJA). "É muito bom que a realidade das pessoas seja mostrada assim, no cinema", opinou.

Todos os filmes que serão exibidos:

Dia 06/10 (sexta-feira)

15h - TUDO SOBRE MINHA MÃE

Dia 09/10 (Segunda-feira)

15h – WA N´WINA

19h – TRAINSPOTTING: SEM LIMITES

Dia 10/10 (terça-feira)

19h – ANTES DO ANOITECER

Dia 11/10 (Quarta-feira)

15h – HOUSE OF LOVE

        O OUTRO LADO DA AIDS

19h - A FAMÍLIA DE FELIX

 

TUDO SOBRE MINHA MÃE

(Todo sobre Mi Madre)

Espanha/França, 1999, 105min

Direção: Pedro Almodóvar

Em Madri, Manuela (Cecilia Roth) perde o filho precocemente e parte para Barcelona a fim de encontrar o pai do garoto vinte anos depois, agora um travesti chamado Lola. A sua viagem é também um rito de passagem para um novo e desconhecido mundo, do qual faz parte, por exemplo, Irmã Rosa (Penélope Cruz), uma freira grávida e portadora do vírus HIV. Bem ao seu estilo irreverente e com uma carga melodramática peculiar, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar confronta o espectador com o tema da aids sem fazer da doença um foco de especial atenção em seu cinema. É a personagem, digamos, complexa da religiosa que dará a Manuela uma esperança de reiniciar sua vida e à história um sentido de renascimento.

 

WA N'WINA

(Wan'wina)
África do Sul, 2001, 52min
Diretor: Dumisani Phakathi

O jovem diretor sul-africano retorna a seu bairro natal, em Soweto, para colher depoimentos de amigos de infância. O objetivo: saber como a Aids afetou o cotidiano deles. As conversas giram em torno de relacionamentos, tradições, tabus, amor e sexo. Entre os colegas estão Phumla e Timothy, que expõem suas emoções ao relatar a dureza das ruas e as escolhas que foram forçados a fazer. Com a câmera no ombro e incisivo nas perguntas, Phakathi faz um mergulho em suas raízes para revelar o abismo existente entre a realidade e as campanhas de prevenção contra a doença em seu país.

 

TRAINSPOTTING: SEM LIMITES

(Trainspotting)

Inglaterra, 1996, 94 min

Direção: Dany Boyle

Inspirado no best-seller de Irvine Welsh, o diretor Danny Boyle realizou mais um polêmico retrato da juventude sem rumo. Sem enaltecer nem condenar o comportamento dos protagonistas, focaliza um bando de escoceses viciados em heroína. Essa comédia barra pesada caiu nas graças da imprensa inglesa, recebeu aplausos no Festival de Cannes e obteve sucesso de público. Por outro lado, em nome da moral e dos bons costumes, houve tentativas de proibi-la em diversos países. O narrador Mark (Ewan McGregor), e seus colegas Spud (Ewen Bremner), Sick Boy (Johnny Lee Miller), Begbie (Robert Carlyle) e Tommy (McKidd) levam a vida "vendo o trem passar", como sugere a gíria britânica do título. Ou seja, não estão nem aí para trabalho, escola ou família. Na Edimburgo dos dias de hoje, eles vivem a beira de perigos como a overdose ou a aids. Mas no desfecho, nem todos se dão mal.

 

ANTES DO ANOITECER
(Before Night Falls)
EUA, 2000, 125 min

Diretor: Julian Schnabel

O foco desse drama biográfico é antes de tudo o amor e a rebeldia --- na política, no sexo, na vida--- que a Aids consome num epílogo melancólico. O herói desregrado em questão é o escritor cubano Reinaldo Arenas (1943-1990), jovem homossexual de origem pobre que divide seu tempo entre os prazeres idílicos da ilha, a literatura, os parceiros e a boa disposição para o engajamento político. Chega a se unir aos revolucionários para levar Fidel Castro ao poder. Mas quando este chega lá, mostra pouca ou nenhuma simpatia por algumas categorias, gays e artistas incluídos. Arenas pena sete anos na prisão e por fim migra para Nova York, onde adoece e morre. O diretor Julian Schnabel, para usar uma expressão apropriada a sua face de pintor, por vezes carrega nas tintas. Mas o realizador conta com uma interpretação forte e cativante de Javier Bardem, como Arenas, especialmente na passagem da prisão, quando também Johnny Depp marca presença no papel do travesti Bon Bon.

 

HOUSE OF LOVE

(House of Love)
EUA/Namíbia, 2001, 26min
Direção: Cecil Moller

O curta-metragem integra a série documental de 33 títulos Steps for the Future, uma espécie de mapeamento da Aids no sul da África, hoje a região com maior incidência de soropositivos no mundo. Outro título do pacote, Wa 'N Wina, filmado na África do Sul, está previsto na seleção do ciclo Cinema Mostra Aids. No caso, o cenário é o pequeno porto Walvis Bay, na Namíbia, e as personagens as prostitutas locais. Elas dependem das rápidas visitas dos marinheiros para sobreviver e contam ao diretor Cecil Moller os motivos que as levaram ao trabalho. Falam ainda de amor, sexo, pecado e uma noção muito pessoal de redenção, enquanto o fantasma da Aids ronda seu cotidiano.

 

O OUTRO LADO DA AIDS

(The Other Side of Aids)

EUA, 2004, 87 min
Diretor: Robin Scovill

A premissa deste documentário é no mínimo controversa e fez alarde nos festivais em que foi exibido. O diretor Robin Scovill explora a teoria de que o vírus HIV não é o agente causador da Aids. Como argumento inicial, ele traz o exemplo da mulher Christine Maggiore, que vive com o HIV desde 1992 sem tomar medicamentos. Cita, inclusive, que os dois filhos do casal, amamentados pela mãe, também não foram medicados e mantêm-se imunes à doença. A fita, então, busca depoimentos semelhantes de mais dez adultos infectados, alguns sob efeito dos coquetéis, outros não. Comparecem também casos de crianças que tornaram-se alvo de disputas de pais soropositivos e a Justiça, o que envolve a polêmica se elas devem ser tratadas antecipadamente ou não. São ouvidos ainda especialistas, médicos e políticos responsáveis pelas ações governamentais. Até a banda Foo Fighters, responsável pela trilha sonora, tem sua vez como promotora de informações alternativas sobre a Aids.

 

A FAMÍLIA DE FELIX  

(Drôle de Félix )

França, 2000, 95min

Direção: Olivier Ducastel e Jacques Martineau

Outro exemplo, assim como Dias, de um olhar renovado sobre a Aids. Aqui, a doença deixa de ser o fator dramático impulsionador da trama, embora conte nas atribuições dadas ao protagonista. O jovem Félix (Sami Bouajila), filho de imigrantes árabes na França, integra a geração de soropositivos que sobrevive com a ajuda dos coquetéis. Depois de perder o emprego, ele abandona o namorado e parte numa viagem pelo interior do país atrás do pai que nunca conheceu. No caminho, diverte-se, encontra novos parceiros e personagens que coincidem com seu desejo de reestruturação familiar.

 

 

Mais informações à Imprensa: Eli Fernandes (19) 8115 – 4856, 3236 – 3711 ou 3234 - 5000

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