Campinas cria megaestrutura para garantir vacinação de 500 mil pessoas

06/08/2008

Autor: Denize Assis

Município imunizará aproximadamente 500 mil pessoas em uma única campanha. No Brasil serão 70 milhões. A Secretaria Municipal de Saúde vai mobilizar 1,7 mil pessoas em todas as regiões da cidade, no sábado, dia do início da campanha

A Secretaria Municipal de Saúde preparou uma megaestrutura para a Campanha Nacional de Vacinação para Eliminação da Rubéola e para a Manutenção da Erradicação da Poliomielite que pretende imunizar, de 9 de agosto a 12 de setembro, cerca de 500 mil pessoas em Campinas – são mais de 400 mil contra a rubéola e 65 mil contra a paralisia infantil.

Trata-se de uma das maiores campanhas já realizadas em Campinas e da maior já ocorrida no Brasil. Os números são grandiosos. Somente em Campinas, serão 500 mil seringas e 500 mil agulhas, 600 mil doses de vacinas, 125 carros e, no sábado, dia da abertura, 1,7 mil pessoas mobilizadas em ações em 250 postos de vacinação fixos e volantes e outras atividades de apoio, logística e organização.

O Ministério da Saúde criou para o sábado, dia 9, o slogan ‘Vacinação é Programa Família’, já que serão vacinados crianças até 5 anos, contra a paralisia infantil, e homens e mulheres de 20 a 39 anos contra a rubéola.

Rubéola. Nos últimos dois anos, ocorreram surtos de rubéola de forma dispersa em todo o Brasil, uma ameaça à população ainda não vacinada. Em 2007, foram registrados 8.407 casos, sendo 161 em mulheres grávidas, o que resultou em 20 recém-nascidos com Síndrome da Rubéola Congênita - SCR (que pode causar cegueira, surdez, retardo mental e cardiopatias, entre outras seqüelas). Em Campinas, foram 12 casos de rubéola em 2007, além da notificação de um caso de rubéola congênita, e sete em 2008.

A única alternativa para conter o avanço de casos, surtos e a SRC é a vacinação indiscriminada de homens e mulheres. O alvo principal é a população de sexo masculino. Em anos anteriores, foram mulheres e crianças. A faixa etária mais atingida é a de 20 a 34 anos de idade e 70% dos casos confirmados ocorreram entre os homens.

Investimentos. No total, o governo federal investirá R$ 202,6 milhões na campanha, o que representa um gasto de R$ 2,90 por pessoa vacinada. Em contrapartida, estima-se que, para cada dólar aplicado, são economizados outros 12 dólares em tratamento curativo de crianças afetadas. O custo do tratamento de uma criança com SRC é estimado em mais de 200 mil dólares anuais; além disso, os maiores gastos referem-se à vida de uma pessoa com algum grau de deficiência (cegueira, surdez, retardo mental e cardiopatias graves, entre outras), sendo que existe uma vacina segura e eficaz que pode evitar tudo isso.

A logística para a campanha vem sendo pensada pelo ministério desde setembro de 2007. E, assim que definidas, ações foram tomadas. O ministério aplicou R$ 135,2 milhões na aquisição de mais de 84 mil doses de vacinas, R$ 8,9 milhões na compra de 80,1 milhões de seringas e agulhas e transferiu R$ 41 milhões para estados e municípios a fim de cobrir despesas com diárias, combustíveis e outras necessárias à operacionalização da campanha.

Foram reservados R$ 3,4 milhões para a compra de caixas térmicas e mais R$ 1 milhão para bobinas de gelo reutilizáveis. O ministério destinou, ainda, R$ 1 milhão em capacitação de pessoal, R$ 2,3 milhões em supervisão e assessoria, além de R$ 2 milhões em materiais impressos e R$ 10 milhões em campanha publicitária.

Frentes. A imunização será feita em duas grandes frentes: com a aplicação da vacina Dupla Viral (sarampo e rubéola) em homens e mulheres com idade entre 20 e 39 anos de todo o país, e por meio da vacina Tríplice Viral (sarampo, caxumba e rubéola) em indivíduos entre 12 e 19 anos nos estados do Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte, além de toda população indígena que vive em aldeias.

De acordo com a coordenadora da Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde de Campinas, a enfermeira sanitarista Brigina Kemp, todos devem ser vacinados, independente do histórico de vacinação ou doença anterior. “É o que denominamos vacinação indiscriminada. A campanha de vacinação causa impacto imediato para alcançar a meta de eliminação da Rubéola nas Américas até 2010, um compromisso internacional e nacional assumido pelo Brasil durante a 44ª reunião do Conselho Diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)”, afirma Brigina.

Mobilização. As ações para mobilização feitas pela Secretaria de Saúde têm sido intensas. O Secretário de Saúde, José Francisco Kerr Saraiva, reuniu, em julho, parceiros no esforço de eliminar a Rubéola e a Síndrome da Rubéola Congênita (SRC) em Campinas. Participaram instituições como a Ceprocamp, Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, Shopping Iguatemi, Unimed, as universidades Unip e FACC, Hospital de Clínicas da Unicamp, Emdec, Secretaria Municipal de Administração, Conselho Municipal de Saúde e outros.

O secretário ainda enviou correspondências a representantes da sociedade civil, entidades representativas das áreas da saúde, universidades, escolas das áreas saúde e outros, conclamando os gestores a participarem ativamente dessa grande ação, sensibilizando a população.

“A campanha é de todos os setores da saúde e da sociedade. Trata-se de um pacto assumido pelos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS). O Brasil tem uma experiência acumulada na realização de operações dessa natureza, sendo exemplo para outros países. Não podemos mais retardar esta ação. Devemos esgotar o contingente de suscetíveis para esta doença, principalmente quando se considera a disponibilidade de uma vacina de alta efetividade”, disse o secretário.

No início de julho, a Vigilância em Saúde (Visa) de Campinas reuniu-se com representantes das escolas de enfermagem de nível médio para também informar da campanha, solicitar que cada escola assuma a vacinação na sua instituição e que colabore na composição das equipes. Faculdades de enfermagem também foram contatadas.

No final de junho, a Secretaria de Saúde mobilizou coordenadores de unidades básicas, distritos de saúde e enfermeiros da rede pública municipal de saúde para informar da campanha, o plano de ação e reforçar que o empenho de todos é muito importante para atingir a meta de vacinar 95% da população-alvo.

Poliomielite. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o panorama atual da doença aponta um total de 1.313 casos em 13 países no ano de 2007. São quatro países considerados pólio-endêmicos: Afeganistão, Índia, Nigéria e Paquistão. Além desses, outros nove países tiveram casos confirmados de poliomielite importados: Angola, Camarões, Chad, República Democrática do Congo, Sudão, Myanmar, Niger, Somália e Nepal.

Em 2008, até 3 de junho, foram confirmados 522 casos de poliomielite no mundo, representando um aumento significativo quando comparado ao mesmo período de 2007 com registro de 190 casos.

O último registro da poliomielite em Campinas é de 1980. No estado de São Paulo, o último caso foi registrado em 1988, no município de Teodoro Sampaio. No Brasil, ocorreu em 1989. Em 1994, a Organização Mundial de Saúde concedeu ao Brasil o certificado de erradicação da doença.

“A campanha de vacinação contra a paralisia infantil, iniciada nos anos 80, derrotou a doença no Brasil. No entanto, como a doença ainda existe nos países citados acima e considerando a facilidade do fluxo de pessoas entre as nações, ainda existe o risco da doença voltar a atingir nosso país se nos descuidarmos. Por isso, é muito importante que os responsáveis pelos menores de cinco anos levem as crianças para que tomem as gotinhas que protegem contra a pólio todos os anos, nas duas etapas da campanha”, afirma o secretário de Saúde, José Francisco Saraiva.

Horário. A vacinação acontece das 8h da manhã às 5h da tarde. Quem tiver, deve levar o cartão de vacinas. Os adultos devem também levar o documento de identidade. A vacina é um direito. Todas as crianças menores de cinco anos e homens e mulheres de 20 a 39 anos devem tomar.

Curiosidade. A segunda maior campanha de vacinação mundial ocorreu em 1992, quando o Brasil vacinou 52 milhões de crianças e adolescentes contra o sarampo.

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