Exames confirmam morte por febre maculosa no Eulina

23/08/2006

Exames do Instituto Adolfo Lutz confirmaram nesta quarta-feira, 23 de agosto, que a morte de um morador do Núcleo Residencial do Jardim Eulina, na região norte de Campinas, foi motivada pela febre maculosa. Trata-se de um homem de 62 anos que morreu no dia 5 de agosto. A ocorrência já estava notificada como um dos primeiros casos suspeitos do surto da doença confirmado este mês naquela comunidade.

Este caso tinha um quadro clínico e antecedente epidemiológico compatíveis com febre maculosa e essa confirmação laboratorial era esperada. Portanto, confirma que a suspeita inicial de febre maculosa feita pela Secretaria de Saúde estava correta, afirma a enfermeira sanitarista Salma Balista, diretora da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa) da Secretaria de Saúde de Campinas.

Este é quinto caso da doença confirmado em Campinas desde o início de agosto. Destes, quatro são residentes e com local de infecção no Jardim Eulina sendo 3 óbitos e 1 ainda hospitalizado. Um quinto caso trata-se de paciente residente no Jardim Campo Belo, na região sul da cidade, que morreu e cujo local provável de infecção foi em Valinhos, no rio Capivari.

Segundo a Secretaria de Saúde, o número total de notificações de febre maculosa referentes a moradores de Campinas desde janeiro de 2006 é de 170, total no qual estão incluídos 22 casos notificados do Eulina e também a ocorrência do Jardim Campo Belo.

A enfermeira sanitarista Brigina Kemp, coordenadora da Vigilância Epidemiológica da Covisa, informa que a febre maculosa é endêmica quando ocorre durante todo o ano - na região. Campinas notificou o primeiro caso da doença em 1995 e, desde então, foram confirmados 31 casos, com sete óbitos. Segundo Brigina, a Vigilância Epidemiológica trabalha com casos suspeitos. A partir das notificações, a Vigilância desencadeia investigação clínica, epidemiológica e laboratorial e, após conclusão, pode confirmar ou descartar o caso, explica.

Ainda de acordo com a sanitarista, a média de casos suspeitos notificados de 2000 a 2005 no município é de 125 por ano, sendo que o número de notificações tem aumentado a cada período devido a vários fatores a população cresceu, foi estabelecida uma rede competente de diagnóstico e tratamento entre outros fatores.

O secretário de Saúde de Campinas, José Francisco Kerr Saraiva, afirma que, para a população, é necessário enfatizar a necessidade de que é preciso ter consciência da importância de não freqüentar as áreas de vegetação e mato, que é onde há infestação de carrapatos-estrela e, portanto, são locais de risco.

Não existe vacina contra a febre maculosa. Também há um consenso técnico de que não é possível eliminar totalmente o carrapato do meio ambiente. Sendo assim, na ausência de armas definitivas, cabe ao poder público desencadear ações de prevenção e controle da doença e assistência aos pacientes. À população, repito, cabe conscientizar-se de que áreas de risco não devem ser freqüentadas, afirma.

Outra orientação é que, se freqüentar área de risco e apresentar sintomas da doença que são febre, dor de cabeça, dor intensa no corpo, mal-estar generalizado, náuseas e vômitos a pessoa procure o serviço de saúde e informe que foi parasitada por carrapato.

Saraiva informa que para todas as notificações são desencadeadas medidas de controle que incluem ações de vigilância epidemiológica, com busca ativa de pessoas com sintomas da doença, e assistência aos pacientes; atividades de educação em saúde e comunicação e mobilização social; ações de controle e intervenção ambiental; e articulação política e intersetorialidade.

Saiba mais

O que é?

A febre maculosa brasileira (FMB) é uma doença infecciosa febril aguda, transmitida por carrapatos, podendo cursar desde formas assintomáticas ou leves até formas graves, evoluindo com complicações hemorrágicas e elevada taxa de letalidade. É causada por uma bactéria do gênero Rickttesia (R. rickettsii). É doença de notificação compulsória, devendo ser informada pelo meio mais rápido disponível, e de investigação epidemiológica com busca ativa, para evitar a ocorrência de novos casos e óbitos.

Quais os sintomas?

A doença pode ser de difícil diagnóstico, sobretudo em sua fase inicial, mesmo entre profissionais bastante experientes. O início geralmente é abrupto e os sintomas são inicialmente inespecíficos, incluindo febre, cefaléia, mialgia intensa, mal-estar generalizado, náuseas e vômitos. Em geral, entre o segundo e o sexto dia da doença, surge o exantema máculo-papular, predominante nos membros superiores e inferiores. Nos casos
graves, é comum a presença de edema de membros inferiores, hepatoesplenomegalia, manifestações gastrointestinais (como náuseas, vômitos, dor abdominal e diarréia), manifestações renais (com oligúria e insuficiência renal aguda), manifestações pulmonares (com tosse, edema pulmonar, pneumonia intersticial e derrame pleural), manifestações neurológicas e hemorrágicas (como petéquias, sangramento muco-cutâneo, digestivo e pulmonar).

Como se transmite?

Pela picada de carrapato infectado. A transmissão ocorre se o mesmo permanecer aderido à pele por um período mínimo variando entre 4 e 6 horas. A doença não é transmitida de pessoa para pessoa.

Como tratar?

O tratamento consiste na administração precoce de antibióticos (clorafenicol ou doxiciclina).  Casos de pacientes não tratados precocemente podem evoluir para formas graves e cerca de 80% deles chegam ao óbito.

Como se prevenir?

A população deve evitar as áreas infestadas por carrapatos. Se for necessário entra numa área infestada, sempre que possível, devem ser usadas calças e camisas de mangas compridas e roupas claras para facilitar a visualização. Também é aconselhável a inspeção do corpo para verificar a presença de carrapatos. A limpeza de pastos e a capina da vegetação podem trazer alguns resultados no controle da população de carrapatos.

Denize Assis

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